Painel – Home office: escolha está ligada a valores pessoais

Cacilda Luna para o Portal da FEA-USP

O home office é uma tendência que vem crescendo, principalmente nas grandes cidades. Com o advento da internet, a presença do trabalhador no local de trabalho passou a ser dispensável, dependendo da natureza da atividade. Eliminar o tempo gasto com o deslocamento de casa para o trabalho, aumentar a produtividade, melhorar a qualidade de vida e reduzir custos das empresas são alguns dos benefícios do trabalho à distância.

Uma pesquisa feita com 178 trabalhadores revelou que os brasileiros gostariam de trabalhar em média 3 dias por semana em casa. Realizada pela engenheira de computação Yngrid Nicoletti de Azevedo Singh, a pesquisa foi objeto de seu mestrado, defendido no início de julho, na FEA, sob a orientação da Profa. Maria Aparecida Gouvêa.

O estudo revelou, ainda, que a preferência pelo home office e a quantidade de dias que o trabalhador gostaria de trabalhar em casa estão relacionados a valores pessoais, bem como à condição do ambiente familiar, experiência em home office, sexo do trabalhador e natureza da empresa (pública ou privada).

No Brasil, os efeitos jurídicos do home office foram equiparados aos do trabalho na empresa, em 2011. “A nossa cultura permite que a gente trabalhe em casa, apesar de sermos um povo que gosta do contato pessoal”, opina Yngrid Singh. Trabalhando há 10 anos para uma empresa que fornece suporte e tecnologia para trabalho em casa, a pesquisadora disse que se interessou pelo tema ao observar que certas pessoas eram mais produtivas trabalhando no ambiente doméstico, enquanto outras não conseguiam render bem fora da empresa.

A ideia foi definir o perfil dos trabalhadores que optam pelo trabalho em casa, buscando entender quais os valores pessoais estão relacionados a essa escolha. O estudo constatou que valores como a autopromoção estão mais ligados a quem é favorável ao home office, enquanto a autotranscendência (pessoas que gostam de pensar no bem do conjunto) é mais relacionada a quem prefere o ambiente da empresa.

Outra descoberta é que, quanto mais altos valores como benevolência e autodeterminação, mais dias a pessoa prefere trabalhar em casa. Por outro lado, conformidade, hedonismo, segurança e conservação são valores mais próximos dos que preferem ficar mais tempo no escritório.

Foi estabelecida, ainda, uma hierarquia dos benefícios percebidos pelos trabalhadores no home office: 1) melhor utilização do tempo; 2) melhor balanço da vida pessoal e profissional; e 3) melhor qualidade de vida.

Apesar da maioria dos entrevistados ser favorável ao trabalho em casa, a pesquisadora descobriu que o modelo ideal preferido pelos trabalhadores é uma mescla entre o home office e trabalhar na empresa. Ao segmentar a amostra, Yngrid identificou algumas diferenças na preferência, entre elas a de que as mulheres preferem trabalhar em casa 3 dias ou mais por semana, enquanto os homens, apenas um ou dois dias.

Controle produtivo
O Prof. Wilson Aparecido Costa de Amorim (FEAUSP), da área de gestão de pessoas, não acredita que trabalhar em casa seja uma concessão, mas sim uma conveniência da organização. “O processo produtivo é que controla a vida do trabalhador, e não o contrário. Você não está no local de trabalho, mas do ponto de vista tecnológico, os controles sobre o seu trabalho não desapareceram”.

Amorim questiona, ainda, até que ponto as vantagens do home office superam as do trabalho na empresa, como por exemplo a falta de interação com a equipe. “O computador potencializa o nosso trabalho, mas não elimina a necessidade do contato direto. O ser humano demanda esse tipo de interação muito mais do que se imagina. As pessoas comuns precisam de equipe para criar. Você só acumula conhecimento conversando, trocando ideias”, argumenta.

O lado das organizações
A maioria das organizações que utilizam a prática de flexibilidade para o trabalho geralmente são ligadas ao setor de tecnologia, ciência e telecomunicações. Devido ao tipo de negócio, a flexibilidade oferecida aos profissionais está mais relacionada ao atendimento das necessidades dos clientes e à redução de custos, do que ao bem-estar dos trabalhadores. Para as demais empresas, os motivos alegados para não adotarem o home office são: as características do mercado de atuação e a natureza do negócio.

Esses dados foram divulgados no artigo “Políticas e práticas de flexibilização para o trabalho e seus impactos na percepção dos empregados sobre equilíbrio entre vida e trabalho e crescimento profissional”, publicado pelo Prof. Joel Souza Dutra (FEAUSP), especialista em administração de RH, junto com outros autores. O estudo analisou o grau de internalização das práticas de flexibilidade descritas por 150 organizações e as respostas de 50 mil funcionários sobre equilíbrio entre vida pessoal e trabalho e crescimento profissional.

O resultado mostrou que quem atua em organizações com práticas de flexibilidade tende a ter uma percepção mais negativa do equilíbrio entre vida pessoal e profissional, quando comparada com profissionais de organizações que não adotam home office. Com base na análise, os autores acreditam que provavelmente a adoção das práticas de flexibilidade esteja sendo utilizada como forma de extensão da jornada de trabalho, em vez de meio que possibilite maior equilíbrio entre vida e trabalho.

Fonte: http://www.fea.usp.br/noticias.php?i=1304

 

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