Tempo e espaço nas organizações

Por Luiz Algarra para Linkedin

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Não existe maior perda de tempo entre humanos do que a busca pela objetividade. Nosso sistema nervoso fechado não nos permite nenhuma forma de comunicação objetiva. Tudo que percebemos é visto a partir de um transfundo pessoal. Vivemos apenas nossas coerências íntimas e toda percepção surge neste contexto subjetivo de nosso diálogo interior.

Seguimos imersos em uma matriz de relações intersubjetivas, como se estivéssemos em uma realidade que objetivamente pré-existe, e que pode ser percebida de algum modo por nossa experiência humana. Entretanto o máximo que podemos fazer é nos coordenar em coordenações de coordenações de modo a seguir vivendo.

Em um viver sem exigências, nas situações em que podemos conviver recursivamente uns com os outros, isto não é um grande problema, pelo contrário. Agrupados em pequenos núcleos de convivência nos desenvolvemos por gerações e gerações, operando em conjunto para manter nosso bem-estar, mantendo o bem-estar dos outros de nosso pequeno grupo.

Mas no ambiente das organizações, empresas e instituições o cenários é bem diferente. Ali a exigência dos resultados nos coloca em desafio constante, nos levando a regular nossa fala, nossa escuta e nossas expressões sensíveis. Nos ambientes corporativos não somos nada além daquilo que podemos ser, idealmente adaptados para uma realidade praticamente impessoal.

Mas em diversas ocasiões as empresas querem que passemos a funcionar como humanos novamente, usando nossa criatividade, esticando nossas habilidades ao máximo e operando em grupos colaborativos, certo?

Para isso, de vez em quando, em alguns projetos, sob certas circunstâncias, de acordo com o contexto, conforme o entendimento de algum diretor, sob a oportunidade dos princípios da empresa, de acordo com o planejamento e com tempo muito limitado, podemos conversar livremente nas organizações como se fossemos apenas humanos. Então o que deveria ser simples e natural torna-se muito difícil.

Nestas ocasiões, meu trabalho é lembrar aos participantes que estamos em uma situação diferente do cotidiano de negócios, mesmo que nosso assunto sejam os negócios.

Não é muito fácil, confesso que eu mesmo me perco nas implicações destes diálogos, mas o resultado de modo geral é um resgate importante de um tempo e de um espaço que ocupamos demais, e que hoje nos faz muita falta. É o tempo da convivência, das conversações e dos fluxos espontâneos. Dinâmicas que nos constituem enquanto humanos e que, sem as quais, nos enrijecemos em comportamentos previsíveis, emoções limitadas e capacidade de resultado comprometida.

Por isso lembrando do que diz um amigo meu: No meu negócio, se eu tivesse tempo, daria um tempo.

 

Autor Algarra

 

 

 

 

 

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Luiz Algarra no TEDx São Paulo em 2009

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