Criatividade não é um dom: desconstruindo o mito da genialidade inata

Por Valter Junior

Não é difícil encontrar relatos de pessoas que supostamente nasceram abençoadas com alguma qualidade desejável: corpo perfeito, capacidade cognitiva elevada, vocação para interpretar papeis ou desenvolver narrativas etc. Em resumo, pessoas que nasceram para brilhar.

Hoje sabemos que em muitos desses casos o sucesso individual está mais relacionado a fatores externos, como o acúmulo de capital social, cultural e econômico, do que a características inatas ao sujeito.

Não podemos negar, no entanto, que em vários casos concretos fica evidente alguma propensão para realização de determinada tarefa ou profissão. Exemplo disso é a variação no coeficiente intelectual dos indivíduos — o que de forma alguma interfere na capacidade criativa, conforme veremos a seguir.

Pessoas com QI mais elevado são atraídas mais facilmente para setores onde o raciocínio lógico é frequentemente exigido. Mas isso não é uma ciência exata, então tudo bem se você é um gênio e prefere gastar o seu tempo com literatura, pintura e artesanato.

O maior problema da ideia de uma capacidade natural para desenvolver determinada atividade é que ela cria um grande mito: a ilusão de que algumas pessoas estão fadadas ao sucesso, enquanto outras tendem ao fracasso.

Isso vale para a criatividade.

Podemos entender a criatividade como a capacidade humana de promover alterações no mundo, dando forma à ideias, solucionando problemas e apresentando alternativas para várias situações da vida.

Ter uma ideia, por si só, já faz parte do processo criativo.

Mais importante do que ter uma ideia, no entanto, é fazer com que ela se realize.

Sabe aquele pedreiro de favela que constrói verdadeiras obras de arte, erguendo casas em lugares absurdamente improváveis? Ou o senhorzinho X que fez uma bugiganga nova para facilitar a vida no trabalho. Talvez você já tenha ouvido falar de alguém que conhece alguém que resolveu abrir uma lojinha de artesanato, colocou marca naquilo que antes valia pouco ou quase nada e hoje lucra uma graninha no final do mês.

Parar de reclamar dos problemas do mundo e procurar solucioná-los.

A existência de um problema é, no fundo, condição de possibilidade para que algo de criativo surja no mundo. Se tudo fosse perfeito e imutável, a criatividade não faria sentindo.

José Saramago disse: “Somos todos escritores, só que alguns escrevem e outros não”. Trazendo para nosso contexto: somos todos criativos, só que alguns criam e outros não.

Criatividade não é privilégio de poucos, de pessoas naturalmente propensas a ter sucesso. Pensar fora da caixinha é algo que depende da sua vontade de criar, de alterar a realidade. De perceber que realidade e ficção estão mais próximos do que se imagina.

Vou dar sete sugestões para despertar a criatividade:

  1. Saia de casa;
  2. Consuma bons documentários, filmes e série;
  3. Pare de falar. Comece a ouvir o que as pessoas têm a oferecer;
  4. Interaja com estranhos;
  5. Arrume um problema (sim, exatamente isso);
  6. Um pouco de solidão pode ser importante, mas não exagere;
  7. Não seja egoísta, compartilhe.

E esta foi a sugestão que a vida me deu:

Saia do lugar e comece a fazer alguma coisa.

 

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