Como perder clientes

“O trabalho seria ótimo se não fosse
por esses malditos clientes.”

(Jeff Andersen, em “O balconista”)

Após quase 15 anos como cliente da Dell Computadores eu não imaginava que utilizaria esta empresa como um exemplo de omissão e negligência. Assim, para que este artigo não pareça um mero relato pessoal de insatisfação de um consumidor, decidi convertê-lo em uma lição para empreendedores e executivos listando um triste receituário de como jogar no lixo não apenas um cliente, mas a reputação de toda uma empresa.

1. Em lugar de fazer uma venda, preocupe-se apenas em tirar um pedido

Toda venda deve ser consultiva, ou seja, focada em atender às demandas do cliente. Isso se aplica sobremaneira no caso de produtos ou serviços que possam ser customizados. Porém, quando acionei o departamento comercial da Dell, informando que realizava palestras em todo o país e que fazia uso intensivo do computador durante voos, apresentando todas as minhas necessidades a fim de formatar a melhorar configuração para o equipamento que estava adquirindo, fui ignorado, e acabei comprando uma máquina sem o recurso de teclado retroiluminado e sem conector VGA, essencial para acessar praticamente todos os projetores existentes no mercado. O adaptador HDMI não foi oferecido, sendo enviado apenas meses depois. E nem sempre funcionava. Em suma, venderam-me não uma solução, mas um problema.

2. Crie complicações

O equipamento adquirido veio com o Windows 8 pré-instalado. Como não me adaptei a esta versão, decidi fazer um downgrade para o Windows 7. Porém, isso não era possível, de modo que eu teria que pagar para ter uma versão teoricamente inferior!

3. Faça propostas absurdas

Após um ano de reclamações, a Dell aquiesceu e decidiu substituir o equipamento. Contudo, a proposta foi retirar o aparelho e apenas depois fazer a reposição, ou seja, eu ficaria sem meu instrumento de trabalho sabe-se lá por quantos dias…

4. Seja moroso para cumprir acordos

A saída que encontrei foi comprar um novo equipamento, para depois fazer a devolução do anterior e ser restituído. Ocorre que o reembolso demorou exatos trinta dias, após várias reclamações – e não foi feito integralmente até a presente data, faltando ressarcir os acessórios.

5. Coloque gente despreparada no suporte técnico

O novo equipamento adquirido apresentou – pasme, estimado leitor – problemas diversos desde o início. O principal deles foi o sistema de áudio, impossibilitando-me, por exemplo, de fazer conferências pelo Skype. Abri um chamado técnico, mas o atendente não conseguiu solucionar o problema através do suporte on-line. Pior, comprometeu-se a buscar apoio e jamais retornou o contato.

6. Tenha gerentes omissos na supervisão

Durante as diversas trocas de e-mail tentando solucionar os problemas, fiz questão de envolver os gerentes de área, os quais eram copiados nas mensagens. Entretanto, houve quem não tivesse a dignidade de me contatar para dialogar. Liderança fraca, equipe fraca, problemas à vista.

7. Tente vencer pelo cansaço

Ignorar e-mails e telefonemas ou enviar respostas padronizadas para sinalizar alguma preocupação, sem ação efetiva, equivale a acreditar que o cliente irá desistir e aceitar suas inquietações. Isso pode até acontecer na maioria das vezes, mas não sempre…

8. Despreze o poder de um mísero cliente

Imaginar que uma empresa de pequeno porte e um único equipamento com problemas não trará maiores repercussões, é um péssimo julgamento. Este texto vai percorrer centenas de veículos na mídia, atingir milhares de pessoas, e ficará eternizado graças à tecnologia da informação de que dispomos. Tudo bem, afinal, ainda há quem pense que Marketing é coisa de marqueteiro e imagem de marca é balela.

9. Esqueça reputação e confiança

O que me tornou fiel à marca Dell foi sua assistência técnica. Já tive monitor trincado, teclado danificado que precisou ser substituído e, por contratar a garantia estendida, sempre fui prontamente atendido. Foi isso que me afastou da possibilidade de migrar para a plataforma Macintosh. O mesmo atributo que admirava, há mais de um ano esvaiu-se. Meses atrás, meu computador “apagou” cinco minutos antes de uma apresentação. Confiança conquista-se aos poucos, perde-se de uma só vez.

Eu continuo a admirar Michael Dell por sua capacidade empreendedora. O jovem que aos 19 anos, com apenas mil dólares, iniciou a construção de uma empresa bilionária, certamente não sabe o que estão fazendo com sua marca – e com seu sobrenome.

Observações:

1. O valor relativo aos acessórios foi reembolsado em 26/02, ou seja, duas semanas após a veiculação deste artigo e mais de 60 dias após a coleta do equipamento.

2. O suporte técnico continua negligenciado.

3. Os fatos foram registrados no portal Reclame Aqui. A resposta da Dell foi protocolar, típico copiar-e-colar: “Informamos que atendemos as demandas de nossos clientes somente pelos canais oficiais da empresa” (como se tais canais não tivessem sido acessados).
(http://www.reclameaqui.com.br/11992389/dell-computadores-do-brasil/como-perder-clientes/)

4. Este artigo atingiu, em duas semanas, apenas no Facebook, mais de 1250 curtidas, mais de 110 compartilhamentos e, em especial, mais de 50 comentários com muitos outros relatos de insatisfação com a empresa.

Tom_Coelho

Gestão empresarial em tempos de crise

Por Tom Coelho

“Gestão e sobrevivência andam lado a lado.”

(Joseph Carvalho)

 

Se o término das eleições definiu o cenário político para os próximos anos, o mesmo não se pode dizer com relação às perspectivas econômicas. Nossa atual conjuntura aponta para um crescimento próximo a zero neste ano e grande pessimismo para 2015. A inflação ultrapassou a meta definida, os gastos públicos bateram recorde, voltamos a ter déficit nas transações internacionais, a renda per capita encolheu e a indústria perde continuamente participação no PIB nacional.  Até mesmo o desemprego em queda é ilusório, haja vista que é mensurado com base na estatística de pessoas que estão em busca de emprego, índice este declinante em decorrência dos programas sociais. Prova disso é que os pedidos de seguro-desemprego estão em ascensão, podendo atingir nove milhões de pessoas neste ano, o que pode ser qualificado como, no mínimo, contraditório.

 

Economistas e cientistas políticos concordam que a correção da rota passa pelas reformas política, fiscal e tributária. O governo precisa elevar sua poupança, reduzir os gastos da máquina e ao mesmo tempo investir em infraestrutura; necessita aumentar a arrecadação, mas diminuir a carga tributária para estimular a produção e elevar a competitividade.

 

Enquanto estes impasses são discutidos, cabe aos empresários cuidarem de seus próprios negócios. Afinal, a macroeconomia tem impacto no longo prazo e a gestão microeconômica tem que ser feita aqui e agora. Seguem sete passos para reflexão:

 

1. Repensar o negócio. Analise seus produtos e/ou serviços considerando as demandas dos consumidores e as ações de sua concorrência. Você poderá concluir que é hora de reduzir seu portfólio, enfatizando os itens mais expressivos onde sua competitividade seja maior, ou ampliar a carteira, buscando atingir novos nichos de mercado.

 

2. Planejar. Elabore um plano estratégico para um horizonte mínimo de doze meses, tendo em vista três cenários possíveis: estagnação, com manutenção das vendas obtidas no decorrer deste ano; retração, com queda nos resultados; e evolução, com crescimento do faturamento. Prepare-se para agir diante de qualquer situação conjuntural.

 

3. Reduzir custos. Verifique todos os seus processos, de administrativos a operacionais, a fim de identificar meios para cortar custos sem evidentemente impactar a qualidade. Isso poderá conduzir à necessidade de investimentos em infraestrutura possibilitando elevar a efetividade, ou seja, fazer mais e melhor com menos recursos físicos e financeiros, envolvendo também menos tempo e pessoas.

 

4. Administrar as finanças. A falta de capital de giro é um dos maiores problemas corporativos, em especial das empresas de pequeno e médio porte. Por isso, é necessário ter austeridade na gestão do caixa. Isso significa cuidado na obtenção de crédito e vigília constante dos índices de endividamento, pois é impossível vencer os juros compostos. Atenção também com as vendas a prazo e com o sistema de cobrança dos inadimplentes.

 

5. Capacitar a equipe. O caminho para elevar a produtividade e, consequentemente, a competitividade, passa pelo investimento em sua equipe. Considerando-se o baixo nível de preparo com que os profissionais chegam ao mercado, decorrência direta da qualidade de nosso ensino, cabe a você instruir, treinar e desenvolver seus funcionários. Assegure-se de que estão alinhados à cultura de sua empresa, que conhecem seus produtos e/ou serviços, e que entregam aos clientes internos e externos um atendimento exemplar. Trabalhe para elevar o nível de engajamento dos mesmos, através de políticas de remuneração variável baseadas no êxito, programas de reconhecimento e valorização e construção de um clima organizacional próspero. E, como sempre digo, lembre-se: contrate devagar, mas demita rápido.

 

6. Vender mais. O coração de qualquer empresa está no departamento comercial, responsável pela origem das receitas. Para apoiá-lo, acione os mais diversos instrumentos de marketing, buscando mostrar-se ao mercado e difundir seus diferenciais. Você pode optar por campanhas para promover o desejo e o impulso do consumidor por seu produto e/ou serviço, ou ações mais institucionais capazes de potencializar a credibilidade e a reputação da marca. Escolha os meios e veículos adequados para divulgação e não desconsidere a força das mídias sociais.

 

7. Administrar impostos. Quanto mais competitivo for o seu mercado de atuação, impondo margens menores que exigem volumes crescentes para alcançar resultados satisfatórios, mais relevante será o cuidado com a carga tributária que impacta o seu negócio. Assim, consulte seu contador sobre a viabilidade em alterar seu regime de tributação do lucro real para o presumido ou aderir ao Simples. Considere também a possibilidade de desmembrar sua companhia em duas, ambas optantes pelo Simples, a fim de distribuir o faturamento e usufruir de alíquotas reduzidas. Consulte também outras formas de elisão fiscal (redução legal de tributos).

 

Todas estas ações básicas são essenciais para perseguir a sustentabilidade de seu negócio, embora não sejam as únicas, nem tampouco garantia plena de sucesso. Mas elas estão ao seu alcance e independem das decisões tomadas em âmbito político.

 

Tom_Coelho